Portugal: o
país do medo, da repressão e da revolta
Já escrevi
várias cartas abertas e uma por correio postal e até hoje ainda não recebi
qualquer resposta da parte de Vossa Excelência. Sinto-me votado ao desprezo,
sinto que não tenho voz, talvez porque não pertenço a qualquer partido e só
posso concluir que a minha voz não tem qualquer importância ou pelo contrário
as questões que tenho apresentado são demasiado incómodas e Vossa Excelência
não tem coragem para as enfrentar e para me responder. Apesar de tudo, sou um
cidadão português de pleno direito e não vou calar a minha voz e a minha
indignação.
Há muito tempo
que tenho abordado a questão dos incêndios que têm constituído uma verdadeira
praga há várias décadas, neste martirizado país. Este ano tudo passou dos
limites. A função do Estado é proteger pessoas e bens. É essa a sua função
principal, decorrente do “contrato social” estabelecido entre governantes e
governados. Mas há muito tempo que não temos Estado. Temos uma anarquia, uma
falsa democracia onde o povo se limita a sustentar os partidos, os seus
dirigentes e os seus militantes que se aproveitam das funções que exercem para
usufruírem de todos os privilégios e defenderem interesses obscuros, próprios
ou dos amigos. Ninguém, até hoje conseguiu explicar por que razão arde o país
todos os anos no Verão. Se o Estado não tem capacidade para resolver este
problema, combater o crime incendiário ou eliminar este mal pela raiz estamos
perante a maior falência e incompetência do nosso sistema jurídico-político.
Vivemos hoje num
país dominado pelo medo, pela perseguição e pela repressão como acontece na
seguinte situação: “um pacato cidadão resolve queimar alguns detritos vegetais
no seu quintal dentro de um recipiente metálico, num espaço limpo com a terra
lavrada e húmida depois de alguns dias de chuva, num dia frio, sem qualquer
perigo de incêndio. Inesperadamente aparecem dois elementos da corporação de
bombeiros mais próxima, a questionar a origem de uma pequena coluna de fumo sem
chama visível e o cidadão responde que a situação não constitui qualquer
perigo, que a fogueira não está em campo aberto mas dentro de um bidon
metálico, totalmente controlada e sem perigo de se propagar no espaço
envolvente. Os bombeiros ameaçam de imediato o cidadão que farão queixa à GNR
se a fogueira não for apagada. Apesar de considerar esta exigência um absurdo,
fruto do trauma dos incêndios do Verão, o cidadão lança um regador de água para
dentro do bidon de onde continua a sair uma pequena nesga de fumo. Passadas
algumas horas aparece a GNR a averiguar a situação, verificando que não existe
nenhum perigo e que tudo está controlado e apagado, que não havia plásticos mas
ervas daninhas, grama e outros detritos que não morrem na compostagem, mas
dando indicações de total proibição de qualquer tipo de fogo.”
Senhor
presidente da República, estamos perante um verdadeiro ataque a um pacato
cidadão que olha para os bombeiros e para a GNR como duas instituições que se
aliaram para perseguir e reprimir alguém que realiza tarefas domésticas
normais, desde todos os tempos. A limpeza de detritos vegetais que se acumulam
ao longo do ano é uma situação recorrente, todos os anos. Não se compreende
esta proibição só porque ainda não chegámos ao dia 15 de Novembro. A função dos
bombeiros consiste, agora, em fazer queixas contra os cidadãos inocentes e
inofensivos e a da GNR, em reprimir e perseguir os cidadãos em vez de os
defender? Parece-me que estamos perante um problema grave de sanidade mental em
que o trauma e a psicose turvam a capacidade racional e a sensatez própria de
seres humanos equilibrados. O mesmo sistema político que persegue um inofensivo
cidadão nas suas tarefas domésticas quotidianas mais básicas marca o calendário
anual da época de incêndios, na fase Charlie, que infalivelmente reduz o país a
cinzas em que os grandes criminosos ficam sempre impunes. Se estes bombeiros,
apoiados por bufos, mostram tanto zelo em apresentar uma queixa contra um
inofensivo cidadão, não compreendo por que razão ainda não foram identificados
e levados à justiça os grandes criminosos dos incêndios que mataram mais de cem
pessoas, este ano, e destruíram centenas de casas e de fábricas causando
milhões de euros de prejuízo. Que sistema é este que incomoda, persegue e
ameaça um pacato e pacífico cidadão e deixa em liberdade os grandes criminosos
que destroem o país todos os anos?
O senhor
Presidente da República continua a pactuar com este regime de repressão, de
injustiça e de impunidade? Como podemos criar um país pacífico, tranquilo e
justo onde toda a gente possa viver feliz se não houver competência, coragem
política e ousadia para emendar o que está mal?
São inúmeras as
injustiças que levam os cidadãos portugueses a sentirem-se perseguidos,
angustiados e revoltados.
Um dos casos
mais gritantes é a criação de uma taxa de manutenção de conta imposta aos
clientes da Caixa Geral de Depósitos desde o passado mês de Outubro. Se não me
falha a memória foi feito um inquérito parlamentar à Caixa Geral de Depósitos
que não foi concluído. Por que razão este inquérito não chegou ao fim? Por que
razão os grandes devedores do banco público ficaram sossegados e os clientes é
que estão a pagar essas dívidas milionárias?
Pode o
Presidente da República pactuar com esta tremenda injustiça?
Apresento a Vossa Excelência os meus cumprimentos.
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