Exmo. Senhor
Presidente da República,
Ainda não encontra
razões suficientes para demitir o governo, dissolver a AR e convocar novas
eleições que possam alterar este estado de coisas, perante esta enorme desgraça
de dezenas de mortos e de centenas de casas, fábricas e outros bens destruídos
pelo fogo nestes últimos dias?
Acabo de ouvir a
declaração do senhor primeiro ministro sobre esta tragédia onde manifestou uma
completa incompetência na apresentação de soluções. Foi uma demonstração de
total insensibilidade perante o sofrimento de milhares de portugueses e de
falta de respeito por todos os que perderam a vida, uma atitude de prepotência
e de total falta de humildade. Limitou-se a repetir o que disse no passado. Não
demite a ministra da Administração Interna e não dá garantias de que desgraças
como estas não se voltem a repetir. As soluções apresentadas, como a reforma da
floresta e o novo modelo de combate a incêndios não resolvem nada. Não é um
decreto que vai fazer milagres. É preciso sabedoria, competência e estratégia.
Promete acção mas as desgraças sucedem-se imperdoável e irremediavelmente. O senhor
Presidente da República ainda não se deu conta de que este primeiro ministro
não sabe nada sobre nada:
1. Depois da
tragédia de Pedrógão Grande, em vez de responder rápida e eficazmente às
vítimas, mandou esperar pelo relatório da Comissão Técnica Independente para
saber se era ou não responsável. Três meses depois, perante o relatório, recusa-se a assumir responsabilidades e remete para a resposta do Conselho de
ministros do próximo sábado. Se lhe é exigida responsabilidade política sobre
isto ou aquilo remete para esta ou aquela reunião que está agendada ou para
este ou aquele órgão que irá decidir. Ele não tem capacidade de decisão sobre
nada, precisa sempre de ordens exteriores. Não é um chefe, é um moço de recados. Não é um líder, é um autêntico
catavento e por isso é que as desgraças se sucedem cada vez com mais gravidade.
2. O que é a
responsabilidade política para este primeiro ministro? “É obedecer
às recomendações do relatório”. Isto é, é fazer o que devia ter sido feito
mas não fez (o reconhecimento da sua própria incompetência). “É ter uma atitude
madura”. Pois claro, senhor presidente, temos um primeiro ministro imaturo,
amador e incompetente que precisa que lhe digam tudo o que deve fazer como uma criança
imatura que não tem a mínima noção de nada, muito menos de responsabilidade. As
vítimas continuam na desgraça sem terem culpa nenhuma, à sua sorte, sem que o
governo lhe repare o dano. Salve-se quem puder. Este é o sentido de
responsabilidade deste primeiro ministro, senhor presidente. É a responsabilidade tipo: “bate e foge”.
3. Se é
interrogado sobre a demissão da ministra responde que a demissão não resolve
nada e promete acções
e soluções e que é uma infantilidade demiti-la. De facto, que competência
pode ter esta ou outra ministra se tem que obedecer a um primeiro ministro
completamente irresponsável
e incompetente? Que soluções, se repete sempre o mesmo discurso? Onde estão
as acções se o país continua todo a arder de norte a sul e de este a oeste?
4. Convém não
esquecer que este primeiro ministro assumiu o poder como um oportunista e um
aventureiro como se governar fosse organizar uma jantarada ou uma farra com os
amigos, prometendo que não ia aumentar os impostos, que ia virar a página da
austeridade (distribuindo tachos pelos amigos), mas não parou nem pára de
aumentar impostos, sacrificando todos os que criam riqueza e sustentam,
parasitariamente, uma classe política inútil e cada vez mais numerosa,
injustificadamente. Mentiu com todos os dentes que tem na boca e o senhor Presidente
pactua com esta enorme fraude, esta tremenda burla e este abuso de confiança?
Como podem os portugueses confiar no senhor Presidente da República?
5. O que vale
prender centenas de incendiários se tudo fica na mesma mesmo que sejam
apanhados em flagrante? Que leis nos regem que defendem mais o criminoso do que
a vítima e as vítimas são todos os portugueses? Que Constituição permite que
esta tragédia se arraste irremediavelmente, sem esperança nenhuma de reversão
desta trajetória? O que valem leis e decretos sobre a reforma da floresta e
mudanças no combate e na prevenção dos incêndios se os criminosos actuam com
toda a liberdade e impunidade haja ou não reforma da floresta?
Senhor
Presidente da República, já enviei várias cartas a Vossa Excelência mas todas
caíram em “saco roto”. Infelizmente os alertas e os receios que tenho referido
têm-me dado razão. A trajetória em que nos encontramos, politicamente, só nos
levará a maiores desgraças porque, como já referi, temos um regime de farsa
democrática dominado pelo oportunismo e pela incompetência.
O senhor
presidente tem coragem para visitar as regiões, os espaços, as casas, as
fábricas, a total destruição provocada pelos incêndios, para distribuir beijos
e abraços? Eu teria vergonha. O que vale a solidariedade e as lamúrias perante
a incompetência e a arrogância dos responsáveis políticos que nos desgovernam?
Precisamos de
uma Constituição democrática que defenda o cidadão dentro do quadro de valores
da nossa cultura, do humanismo, da liberdade, da solidariedade e da paz. Não
queremos uma Constituição que pactue com oportunistas sectários e incompetentes
que nos levam para a desgraça.
Precisamos de um
Presidente corajoso e revolucionário que seja capaz de enfrentar a falsidade, o
oportunismo e os interesses instalados que destroem o país. Basta de desgraças.
Apresento a V.
Exa. os meus cumprimentos.
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