Carta aberta a toda a classe política
Exmo. Senhor
Presidente da República,
Exmos. Senhores
membros do governo,
Exmo. Senhor
Presidente da AR e deputados de todos os partidos,
Exmos. Senhores
lideres parlamentares e lideres partidários,
Parece que
estamos no fim do mundo: vagas enormes de chamas infernais e diabólicas devastam
o país sem dó nem piedade transformando o quotidiano natural numa realidade
apocalíptica. Não há “arca de Noé” que nos salve deste dilúvio de fogo. As
chamas descontroladas que devoram as florestas, as propriedades agrícolas, as
casas e as pessoas são a imagem do descontrolo, da incompetência, da inépcia e
da anarquia do poder do Estado, desta farsa democrática em que vivemos e de toda
a classe política deste país responsável pelos poderes do Estado nas últimas
décadas, principalmente na actual. O povo apavorado é obrigado a abandonar o
seu repouso e a sua vida como quem se despede para a morte, para o desconhecido
ou para o nada sem regresso num auge de angústia e resignação. Todo o povo se
sente vítima de uma força maligna poderosa e intencional que teima reduzir tudo
a cinza semeando a ruína, a morte e a desolação sem que o Estado dê mostras de
contrariar esta fatalidade.
Perante esta
desgraça totalmente criminosa o que é que o povo espera da classe política responsável
pelos poderes do Estado em matéria criminal? Perante esta onda gigantesca, criminosa
e homicida o que é que o povo exige a quem detém as rédeas do poder? Claro que
espera que o poder do Estado (o Ministério Público) acabe com este mal de uma
vez. Basta de ruína. Mas quem pode atalhar a desgraça? Quem pode acudir a esta fatalidade?
Quem pode travar este horrível desígnio? Quem pode deter quem comete tais
crimes a coberto da impunidade e do encobrimento? Onde está o Ministério
Público e porque é que ainda não agiu? Onde estão os poderes do Ministério
Público?
Porquê todo este
silêncio de quem está acima de todos nós e nos devia defender? Não estamos
perante um silêncio grave, cúmplice e comprometedor que parece ter receio em
afrontar o crime e o criminoso? Quem cala esta desgraça diabólica? O que é que
o povo, aflito, assustado e arruinado, espera de quem detém o poder, em todos
os órgãos do Estado, e o que espera de toda a classe política, em geral? Este
silêncio assustador não significa uma atitude de conivência para com o crime e
o criminoso? O silêncio da autoridade não parece um pacto com a prática
criminosa? Quem se cala não parece que se está a identificar com o criminoso?
Porque é que o próprio governo tem tanto receio em falar reduzindo a
comunicação e a informação a uma espécie de papaguear um relato que repete de
manhã e à noite, longe do povo e do sofrimento, sem solução para a agonia?
Porque é que o próprio governo não se indigna com esta enorme calamidade e não
dá sinais de a querer contrariar?
No passado, o
rei detinha o poder de vida e de morte sobre os seus súbditos. Hoje, o Estado parece
que só detém o poder de morte: a estrada da morte, a árvore da morte, a morte
na praia, a morte do aborto, a morte dos bancos, a morte floresta, a morte da
natureza... que mais?
Se antes, o rei
simbolizava o poder de Deus para benefício do povo, hoje o Estado parece simbolizar
o poder do diabo que aposta em semear o mal. Lamentavelmente, já não há líderes
a quem “o vento e o mar obedecem”.
Quem deve
resolver estes enigmas? Não há ninguém neste país que saiba explicar o porquê
de todas estas tragédias incendiárias? Como é possível? Onde está o Estado todo
poderoso que deve proteger pessoas e bens? Onde está o poder executivo? Onde
está o poder legislativo? Onde está o poder judicial? Onde estão os militares,
os revolucionários que nos libertaram da escravidão e da injustiça? Onde estão
os generais, os comandantes supremos, o chefe do Estado maior, os almirantes,
os tenentes, os soldados, os capitães? Onde estão os políticos? Todos os
políticos, os presidentes da Câmara, os vereadores, os presidentes da Junta, as
assembleias dos defensores do povo, os activistas dos direitos disto e daquilo?
Ninguém se indigna? Ninguém exige uma resposta a esta acção criminosa? Como
podem os candidatos autárquicos fazer campanha eleitoral a prometer vida,
benefícios e prosperidade neste país de cinza, de morte e de tristeza? O que
valem as suas promessas se não reclamarem uma justiça eficaz contra o crime,
contra a corrupção e contra a falsidade?
Onde estão os
comentadores cheios de sabedoria que adivinham, que profetizam que fazem
críticas, que dão palpites? Nenhum deles vislumbrou, do seu posto de vigia, um
pequeno indício vitorioso de um criminoso incendiário que nos possa libertar
desta terrível desgraça? Nenhum se revolta? Nenhum reclama por justiça?
Por que razão o
país se tornou num inferno cada vez maior de dia para dia? Quem pode deter o
diabo à solta? Quem se atreveu a ser o criminoso mor do reino? Quem se vinga
desta forma tão cruel sobre o povo inocente? Que mal fez o povo para sofrer tão
grande vingança e tão grave castigo?
Se temos um
governo, e o seu chefe, tão confiante e tão sábio em baixar o défice, em
aumentar o crescimento económico e tão competente em governar o país na
prosperidade, por que razão se mostra tão incapaz e tão impotente em governar
na dificuldade e na provação, em legislar para inverter esta fatalidade? Ainda ninguém,
que ocupa os altos poderes do Estado, pôs a hipótese de que algum dos seus
“amigos”, inimigos, adversários, opositores ou mesmo um camarada de bancada se
tenha transformado num traidor, defensor da política de terra queimada e da ruína,
para que seja entregue à Justiça? Ninguém se deu conta de algum indício de
traição ou de vingança por isto ou por aquilo?
Onde está a
força do poder judicial que seja capaz de enfrentar esta potência destrutiva,
este enorme terrorismo incendiário que tenta reduzir o país a cinza? Que meios
são dados ao poder judicial para agir em conformidade com a grande
criminalidade? Que sistema de justiça é o nosso que nos deixa morrer e que não
defende o povo? Se o Estado não deixa funcionar a Justiça quem pode julgar e
castigar os criminosos? Se a Justiça estiver corrompida quem nos virá salvar?
Vamo-nos deixar morrer ou terá o povo que se defender e castigar os criminosos?
Onde está o
poder legislativo? Que leis permitem que, de ano para ano, os criminosos fiquem
impunes e continuem a sua acção ruinosa? Nenhum deputado, das centenas que se
comprometeram a defender o povo, se revoltou contra esta bancarrota legislativa
incapaz de combater os criminosos sem escrúpulos que, como autênticos
psicopatas, nos matam e incendeiam o país de norte a sul?
Onde está o
Estado de Direito, neste país em agonia, se o crime se sobrepõe à lei, como uma
força soberana de destruição que fica na impunidade? Como pode o Presidente da
República permitir que os criminosos governem o país e que as vítimas nunca
vejam o seu enorme dano reparado? Onde está o Estado Soberano se a soberania
está no crime e no criminoso?
Só temos Estado,
poder executivo, poder legislativo e poder judicial e toda uma máquina estatal
para nos impor taxas, nos obrigar a pagar impostos e nos estripar até aos
ossos?
Onde está o
“vírus” desta gravíssima doença que corrói o país?
Vivemos num
verdadeiro estado de guerra entre o imperdoável crime incendiário e o cidadão
anónimo que sofre com esta ruína sem limites. O povo exige saber quem declarou
e quem faz esta guerra. Ninguém pode ficar tranquilo enquanto não for explicada
e resolvida toda esta situação que se repete todos os anos, no Verão. Muitos
dos nossos governantes já viveram esta tragédia há vários anos. Já deviam saber
com que linhas se cose. É urgente que políticos em funções e os que já cessaram
funções esclareçam o povo acerca de quem faz esta guerra com armas de fogo
contra o povo indefeso, destruindo o país e delapidando os seus recursos
naturais.
Uma última
questão: haverá alguma relação de coincidência pelo facto de o concelho de
Mação, fortemente martirizado pelo fogo, ser a terra natal de um conhecido Juiz?
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