Hoje, já pouca
gente se lembra do país rural, atrasado, em que cerca de um terço da população,
pobre e de fracos recursos, se dedicava à agricultura, uma agricultura de
subsistência, na maior parte dos casos. A lenha era o combustível principal
para a cozinha e dificilmente se encontrava um ramo seco no campo ou nas matas
para acender o borralho. Mais tarde a migração do campo para a cidade e o
aparecimento de mais indústrias fez com que muita gente abandonasse a
agricultura. O aparecimento do gás, nos meios rurais na década de 60, reduziu
muito o consumo da lenha.
Com a entrada de
Portugal para a então CEE os portugueses foram “obrigados” a abandonar a
agricultura e a pecuária doméstica e, desde essa altura, as matas, as florestas
e os pastos cresceram desordenados e os campos ficaram abandonados criando
grandes quantidades de combustíveis à mercê do fogo em dias de calor tórrido,
no Verão.
De uma forma
geral, a classe política que tem assumido o poder nunca soube governar a
própria casa quanto mais um país. Preocuparam-se mais com as disputas
eleitorais e com os interesses próprios. Além disso, a maior parte nasceu na
cidade e nunca cultivou um campo, plantou uma árvore ou limpou uma mata. Os
políticos, em geral, são “plantas de estufa”, meninos mimados que nunca usaram
uma enxada, uma gadanha ou uma podoa.
Desde há algumas
décadas, parece que o fogo se transformou numa forma de ganhar muito dinheiro.
Antes, os bombeiros mal saiam do quartel, mesmo no Verão, e seria óptimo que os
bombeiros recebessem o seu ordenado, no fim do mês, sem terem feito nada.
Nos últimos anos
este cenário mudou radicalmente: os incêndios são às centenas ou milhares
diariamente no Verão e toda a gente sabe que na “época de incêndios” eles
aparecem sem falta, muitos deflagram de madrugada em locais de difícil acesso e
todos os anos muitas pessoas são apanhadas em flagrante ou consideradas
suspeitas de crime de incêndio, inclusive, alguns elementos pertencentes aos
bombeiros. Até hoje nenhum governo acabou com esta sina.
Milhares de
hectares de floresta de pinheiro bravo desapareceram na região centro (Vila de
Rei, Oleiros, Castelo Branco, etc.) e levaram à extinção de dezenas de
serrações e outras indústrias que empregavam milhares de pessoas. Nem toda a
mancha florestal recupera. De ano para ano o país vai ficando mais pobre e os
políticos só falam nessas desgraças quando elas acontecem. O povo é que sente
realmente na pele e na vida a força do infortúnio nos anos seguintes. Com menos
árvores, diminui a mancha verde e a humidade na atmosfera, há menos vida, menos
equilíbrio e qualidade ambiental. A vegetação autóctone foi substituída por
árvores mais rentáveis e ninguém tem a coragem para enfrentar este problema com
a ajuda de quem sabe da matéria, os biólogos e outros técnicos.
É preciso acabar
com os incêndios. É preciso que toda a gente saiba que, mesmo que haja calor
forte, a floresta ou a erva seca dos campos não arde se não lhe deitarem o
fogo, salvo raras excepções. É claro que grandes quantidades de resíduos
vegetais secos se tornam pasto fácil para as chamas, mas se não lhe deitarem o
fogo, não ardem por si.
É preciso voltar
a trabalhar a terra, ocupá-la para que não fique abandonada. Mas como o país é só
Lisboa e o resto é paisagem cada vez mais despovoada, com uma baixa taxa de
natalidade, onde o poder político continua a financiar a morte das gerações
futuras (aborto) e a vender o país ao investimento estrangeiro, como é que o
país se pode erguer se os jovens são obrigados a emigrar?
É um disparate
obrigar as pessoas a limpar as terras e as florestas, só por limpar, sem obter
qualquer benefício. É preciso mudar política. A União Europeia mandou-nos
abandonar a terra. Isto não pode continuar. Ninguém nos pode proibir de
cultivar a terra e explorar os nossos recursos. A União Europeia nasceu das
cinzas da segunda guerra mundial com o objectivo de estabelecer a paz e para
isso foram criadas “quotas” ao carvão e ao aço, as matérias primas para o
fabrico de armas. Quando Portugal e outros países entraram no grupo, as quotas
não incidiram sobre o fabrico de armas mas sobre a produção de leite e outros
produtos e recursos naturais. As políticas europeias têm que ser mudadas porque
estas decisões são responsáveis pelas tragédias que ocorrem nas florestas,
aliadas ao crime sem escrúpulos.
Para que o mundo
rural se livre da morte e da cinza temos que exigir mudanças radicais. O país
tem estado do avesso. Hoje, em vez de agricultura de subsistência, temos que desenvolver
a agricultura como hobby que deve ser
apoiada e subsidiada em vez de ser proibida e atacada. Hoje a tecnologia
disponibiliza um conjunto de pequenas máquinas que permitem actividades
agrícolas mais fáceis e rápidas do que há cinquenta ou sessenta anos: o pequeno
tractor, a moto enxada, a roçadora, etc. Em vez de gastar milhões no combate
aos incêndios, o Estado deveria subsidiar a compra destas máquinas e criar incentivos
à natalidade, revogando imediatamente a lei do aborto e outras medidas
fracturantes que estão a hipotecar o futuro do país e dos portugueses.
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