quarta-feira, 21 de junho de 2017

Do país rural ao país da morte e cinza

Hoje, já pouca gente se lembra do país rural, atrasado, em que cerca de um terço da população, pobre e de fracos recursos, se dedicava à agricultura, uma agricultura de subsistência, na maior parte dos casos. A lenha era o combustível principal para a cozinha e dificilmente se encontrava um ramo seco no campo ou nas matas para acender o borralho. Mais tarde a migração do campo para a cidade e o aparecimento de mais indústrias fez com que muita gente abandonasse a agricultura. O aparecimento do gás, nos meios rurais na década de 60, reduziu muito o consumo da lenha.
Com a entrada de Portugal para a então CEE os portugueses foram “obrigados” a abandonar a agricultura e a pecuária doméstica e, desde essa altura, as matas, as florestas e os pastos cresceram desordenados e os campos ficaram abandonados criando grandes quantidades de combustíveis à mercê do fogo em dias de calor tórrido, no Verão.
De uma forma geral, a classe política que tem assumido o poder nunca soube governar a própria casa quanto mais um país. Preocuparam-se mais com as disputas eleitorais e com os interesses próprios. Além disso, a maior parte nasceu na cidade e nunca cultivou um campo, plantou uma árvore ou limpou uma mata. Os políticos, em geral, são “plantas de estufa”, meninos mimados que nunca usaram uma enxada, uma gadanha ou uma podoa.
Desde há algumas décadas, parece que o fogo se transformou numa forma de ganhar muito dinheiro. Antes, os bombeiros mal saiam do quartel, mesmo no Verão, e seria óptimo que os bombeiros recebessem o seu ordenado, no fim do mês, sem terem feito nada.
Nos últimos anos este cenário mudou radicalmente: os incêndios são às centenas ou milhares diariamente no Verão e toda a gente sabe que na “época de incêndios” eles aparecem sem falta, muitos deflagram de madrugada em locais de difícil acesso e todos os anos muitas pessoas são apanhadas em flagrante ou consideradas suspeitas de crime de incêndio, inclusive, alguns elementos pertencentes aos bombeiros. Até hoje nenhum governo acabou com esta sina.
Milhares de hectares de floresta de pinheiro bravo desapareceram na região centro (Vila de Rei, Oleiros, Castelo Branco, etc.) e levaram à extinção de dezenas de serrações e outras indústrias que empregavam milhares de pessoas. Nem toda a mancha florestal recupera. De ano para ano o país vai ficando mais pobre e os políticos só falam nessas desgraças quando elas acontecem. O povo é que sente realmente na pele e na vida a força do infortúnio nos anos seguintes. Com menos árvores, diminui a mancha verde e a humidade na atmosfera, há menos vida, menos equilíbrio e qualidade ambiental. A vegetação autóctone foi substituída por árvores mais rentáveis e ninguém tem a coragem para enfrentar este problema com a ajuda de quem sabe da matéria, os biólogos e outros técnicos.
É preciso acabar com os incêndios. É preciso que toda a gente saiba que, mesmo que haja calor forte, a floresta ou a erva seca dos campos não arde se não lhe deitarem o fogo, salvo raras excepções. É claro que grandes quantidades de resíduos vegetais secos se tornam pasto fácil para as chamas, mas se não lhe deitarem o fogo, não ardem por si.
É preciso voltar a trabalhar a terra, ocupá-la para que não fique abandonada. Mas como o país é só Lisboa e o resto é paisagem cada vez mais despovoada, com uma baixa taxa de natalidade, onde o poder político continua a financiar a morte das gerações futuras (aborto) e a vender o país ao investimento estrangeiro, como é que o país se pode erguer se os jovens são obrigados a emigrar?
É um disparate obrigar as pessoas a limpar as terras e as florestas, só por limpar, sem obter qualquer benefício. É preciso mudar política. A União Europeia mandou-nos abandonar a terra. Isto não pode continuar. Ninguém nos pode proibir de cultivar a terra e explorar os nossos recursos. A União Europeia nasceu das cinzas da segunda guerra mundial com o objectivo de estabelecer a paz e para isso foram criadas “quotas” ao carvão e ao aço, as matérias primas para o fabrico de armas. Quando Portugal e outros países entraram no grupo, as quotas não incidiram sobre o fabrico de armas mas sobre a produção de leite e outros produtos e recursos naturais. As políticas europeias têm que ser mudadas porque estas decisões são responsáveis pelas tragédias que ocorrem nas florestas, aliadas ao crime sem escrúpulos.

Para que o mundo rural se livre da morte e da cinza temos que exigir mudanças radicais. O país tem estado do avesso. Hoje, em vez de agricultura de subsistência, temos que desenvolver a agricultura como hobby que deve ser apoiada e subsidiada em vez de ser proibida e atacada. Hoje a tecnologia disponibiliza um conjunto de pequenas máquinas que permitem actividades agrícolas mais fáceis e rápidas do que há cinquenta ou sessenta anos: o pequeno tractor, a moto enxada, a roçadora, etc. Em vez de gastar milhões no combate aos incêndios, o Estado deveria subsidiar a compra destas máquinas e criar incentivos à natalidade, revogando imediatamente a lei do aborto e outras medidas fracturantes que estão a hipotecar o futuro do país e dos portugueses.

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