sábado, 17 de junho de 2017

Carta aberta ao S Presidente da República III

Exmo. Senhor, Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa
Esta é a quarta carta que estou a endereçar a V. Excelência: a primeira foi uma carta aberta, em 28 de Abril de 2016, através da blogosfera e da página da presidência na internet, a segunda foi em 7 de Novembro de 2016, usando a mesma via, a terceira foi em 20 de Abril de 2017, desta vez por correio postal. Até hoje, se não estou enganado, recebi, apenas, uma resposta de três linhas, recentemente, em Maio de 2017, por correio postal, enviada pelo Chefe da Casa Civil de V. Exa. a acusar a recepção de uma mensagem electrónica.
Verifico que V. Excelência não tem tempo para ler a correspondência. Serão centenas de cartas, diariamente, calculo. Mas parece-me que o senhor presidente viaja demais e deveria permanecer mais no palácio de Belém e dedicar-se mais aos problemas do país e a todos os portugueses, também aos que cá vivem. Na terceira carta, em que fiz uma espécie de balanço do primeiro ano de mandato, comparei o senhor presidente a um bombeiro que acode a todos os sinistros. Ao ver as notícias recentes de um incêndio num autocarro, no túnel do Marão, em que a vigilância é feita a partir de Almada, lembrei-me que talvez não fosse má ideia ter um sistema semelhante no Palácio de Belém.
Na minha opinião, a Presidência da República não devia ser uma romaria diária entre o norte e o sul, a Europa e os arquipélagos, África e o Brasil, etc. Em tempo de crise também aqui devia haver alguma contenção e limite. Não é a presença física que dá estatuto a uma região. O presidente não é um “Deus que está em toda a parte e cuida de nós”. Num país de cidadãos livres, o paternalismo exagerado infantiliza o povo.
Nas missivas anteriores apresentei razões fortes para a demissão deste governo anti-democrático que ocupa, ilegitimamente, a cadeira do poder. Vossa Excelência não só não demitiu o governo como parece actuar, não como Presidente da República, mas como número dois do governo, uma espécie de vice-primeiro ministro ou uma versão “corta fitas” do séc. XXI. Como referi na terceira carta, o primeiro ministro, ilegítimo, governa, alegadamente, em nome pessoal, viaja, alegadamente, para fazer negócios em nome pessoal e visitar a família e os amigos. Escrevi: «Que poder pode ter um primeiro ministro que perdeu as eleições? De que valem as suas viagens de “Estado” à China, à Índia ou a qualquer outro país se não representa a maioria do povo português? Não são meras viagens particulares pagas pelo erário público para que possa visitar a família e os amigos?» Desta vez, a resposta a estas minhas interrogações veio da boca do próprio António Costa, no Brasil, como todo o país pôde testemunhar e conforme se pode ver no excerto seguinte:
«Já na parte final da sua intervenção, o primeiro-ministro defendeu que a “universalidade faz parte da identidade de Portugal”.
Temos um primeiro ministro que confunde o seu umbigo com o país e vice-versa e por isso não me parece que esteja à altura do cargo. Não vou repetir agora todas as razões que apresentei nas cartas anteriores para a sua demissão.
Privilegiar os afectos pode tornar-se uma opção errada e perigosa se não houver motivos de contentamento. O lugar primordial dos afectos deveria ser a família e não me parece que um presidente da república possa substituir os progenitores de milhares de famílias desestruturadas e irresponsáveis que maltratam e abandonam os filhos e protagonizam inúmeras cenas de violência doméstica que, quase diariamente enchem as páginas dos jornais.
O campo dos afectos, dos sentimentos e das emoções é muito contraditório e inseguro. “Os gostos não se discutem” e “Quem o feio ama, bonito lhe parece”. Mas nas relações humanas, pessoais e sociais, o amor, rapidamente, se transforma em ódio, a simpatia, em antipatia e a preferência, em rejeição. Toda a história do pensamento ocidental assenta na tese de que os sentidos nos enganam e são fonte de inúmeras ilusões. Só a razão ou o bom senso, como afirma Descartes, nos pode conduzir ao verdadeiro conhecimento. Também sabemos que “o coração tem razões que a razão não compreende”. Para além dos afectos, os portugueses, entre eles muitos emigrantes espalhados pelo mundo, gostariam de compreender porque é que muita gente fica sem o dinheiro que depositou nos bancos, porque é que a Justiça não resolve os casos mais graves que prescrevem ou são arquivados, porque é que continuamos com uma carga fiscal tão elevada no séc. XXI com a capacidade produtiva actual, porque é que não temos uma verdadeira democracia mas uma farsa ou espécie de democracia, etc.
Os afectos deveriam implicar o bem, o belo, o justo, o verdadeiro e também a honestidade, o respeito, etc. que deveriam transparecer nas instituições públicas e na acção dos titulares dos mais altos cargos políticos ao serviço dos cidadãos. Quando o povo é escravizado e sobrecarregado com impostos e vítima da mentira e de falsas promessas não pode haver verdadeiro afecto mas um Estado sado-masoquista que se aproveita do oportunismo e da alienação colectiva.
Preferiria que o meu chefe de Estado defendesse, antes de mais, um verdadeiro Estado de Direito, livre da corrupção, da injustiça e da escravidão. É dever primordial do Estado garantir e defender a liberdade, a propriedade privada e a segurança dos cidadãos.
As comemorações do dia de Portugal têm-se transformado, de ano para ano, num conjunto de cerimónias e discursos vazios de conteúdo, no dia em que grande parte dos portugueses aproveita para descansar ou ir à praia e apenas os depoimentos dos emigrantes, feridos pela saudade, enchem as palavras e os sentimentos. Os portugueses não são “andarilhos por vocação” mas por obrigação, fruto da incompetência e da gestão danosa que tem destruído o país ao longo de vários anos.
É urgente um presidente da República revolucionário vinte e quatro horas por dia, de forma isenta e independente para que possa defender os valores da justiça, da igualdade, da honestidade, da verdade, etc. A independência do poder presidencial tem que prevenir a queda no abismo com antecedência e clarividência e os afectos poderão turvar essa capacidade, essa isenção e distanciamento.
Apresento a V. Excelência os meus cumprimentos.
António de Jesus Oliveira

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