Estamos
a ser governados por criminosos
Exmo. Senhor
Presidente da República,
Prof. Doutor
Marcelo Rebelo de Sousa,
O aforisma
muitas vezes dito em privado: “Estamos a ser governados por criminosos”
é, afinal, totalmente verdadeiro há várias décadas, em Portugal.
1. O crime incendiário. Uma reportagem
apresentada, recentemente, num canal de televisão com o título. “O
Cartel do fogo” apresentou testemunhos reais sobre as causas
criminosas de muitos dos incêndios em Portugal que estão relacionadas com
inúmeros interesses económicos, etc. Não me consta que os testemunhos sejam
falsos e cabe à justiça investigar. Nessa reportagem foi levantada a questão do
aluguer de meios aéreos no combate
aos incêndios em vez de se atribuir essa tarefa à Força Aérea e foi dito que
esta hipótese já tinha sido levantada em alguns governos mas depois abandonada.
Estes dados levam-nos a concluir que os actuais e anteriores governantes que
tomaram decisões sobre esta matéria tinham consciência do que estavam a fazer e
sabiam que as enormes vagas de incêndios todos os anos, no Verão, não eram
simples negligência mas actos intencionais que serviam para satisfazer
determinados interesses bem conhecidos. Já em 1996, se não me falha a memória, a
RTP apresentou uma notícia no Telejornal, ilustrada com imagens do depoimento e
revolta de uma mulher de uma aldeia da região de Pombal em que referia ter
visto um helicóptero a largar fogo e que, ao ser descoberto, o piloto lhe
cercou a casa com fogo para eliminar a testemunha. A mulher afirmou que não
morreu carbonizada porque havia um largo terraço em cimento junto da sua casa e
com a ajuda de uma mangueira molhou o espaço impedindo o fogo de se aproximar,
tendo ardido o galinheiro e alguns espaços cobertos em redor da casa.
Perante estes
testemunhos, caso se confirme a sua veracidade, podemos concluir que os
governantes têm agido de forma dolosa, têm pactuado com o crime incendiário e
nada fizeram até hoje para contrariar essa prática.
Este ano
aconteceram as maiores tragédias, no princípio e no fim da chamada “época de
incêndios”, que já faz parte do calendário, mas mesmo assim as vozes
oficiais e até associações de defesa do ambiente
falaram em negligência,
e o primeiro-ministro
exigiu um relatório para assumir as responsabilidades,
(embora, para ele, esta seja uma palavra oca). Levianamente, o
primeiro-ministro tirou uma semana de férias, preocupou-se mais com a sua popularidade
e o director da polícia
judiciária afirmou, recentemente, que não acreditava que o crime organizado
estivesse na base dos incêndios, mas o balanço é triste, já morreram mais de
cem pessoas e o país ficou reduzido a cinzas.
Senhor
Presidente, estes factos são de uma enorme gravidade. Não passa na cabeça de
ninguém que os culpados não sejam levados à justiça a não ser que a justiça
seja manipulada, esteja do lado dos criminosos e fique tudo na mesma.
Recentemente, alguns agentes da PSP foram constituídos arguidos por terem
atingido a tiro uma mulher que depois veio a falecer, num automóvel cujo
condutor terá tentado atropelar os agentes e fugiu. Os agentes da PSP são o
braço do poder Executivo, são de inteira confiança do governo, obedecem aos
princípios de um Estado de Direito e estavam no pleno exercício das suas
funções de defesa da ordem pública e da legalidade onde tiveram que tomar
decisões e desencadear acções, em fracções de segundo. Nenhum agente da PSP ou
outro elemento das forças de segurança age por conta própria, mas obedece às
ordens do governo. Quando alguma coisa corre mal o Estado deveria assumir as suas
responsabilidades depois de os factos terem sido, correctamente, averiguados. Em
qualquer acidente de trabalho a entidade patronal deve assumir a sua
responsabilidade depois de verificar se o funcionário agiu no estrito
cumprimento do seu dever. Os incêndios em Portugal já acontecem há várias
décadas, já destruíram muitas vidas, muitas florestas e muitas casas, mas, até
hoje, ninguém foi constituído arguido apesar de terem sido feitos muitos
inquéritos e averiguações e todo o país continua à espera que os verdadeiros
culpados sejam levados à justiça e assumam a sua responsabilidade.
2. A seca. Por outro lado, o ambiente tem
sofrido enormemente com incêndios sucessivos, todos os anos, que provocam
enormes feridas em carne viva que sangram e enfraquecem o país cujas cicatrizes
deixam um rasto de morte por largos anos. A situação de seca em que vivemos é
uma consequência directa, além de outros factores, destes ataques às manchas
verdes, aos ecossistemas, à flora, numa palavra, ao pulmão do país que assegura
o oxigénio, a humidade e outras condições para que a chuva venha naturalmente
nas épocas e nos tempos normais.
Com os
incêndios, o país tornou-se árido e incapaz de desenvolver a vida. Se o governo
atribui enorme gravidade a uns miligramas de açúcar ou sal a mais em
determinados alimentos como se explica que não veja gravidade nenhuma na
destruição massiva do ambiente em que todos vivemos?
Não há dúvida
nenhuma de que a seca é da responsabilidade da classe política instalada no
poder há décadas em Portugal. A destruição do ambiente e das manchas verdes
pode não ser preceptível a muita gente, mas é uma realidade absolutamente
verdadeira que se tem agravado de ano para ano. Por outro lado, as decisões e
opções políticas que têm causado o despovoamento de grande parte do Interior têm
contribuído para a propagação do crime incendiário de tal modo que a ocorrência
de centenas de incêndios num só dia passou a ser um acontecimento “normal”. É
preciso coragem e competência política para criar condições para que as pessoas
possam viver na sua terra, tenham condições para poder ganhar a vida na sua
terra e assim possam cuidar dos seus campos, das suas florestas, dos seus
animais, etc. Se as directivas agrícolas nacionais e comunitárias estiverem
erradas ou desajustadas têm que ser alteradas para acabar de vez com a
destruição do país e da vida dos portugueses.
3. Conclusão. Senhor presidente, é preciso
coragem para enfrentar todos os obstáculos, interesses instalados e a
perversidade de quem tem destruído o país pelo fogo, ao longo de décadas. Ou
Vossa Excelência tem coragem para enfrentar toda esta onda criminosa infiltrada
no poder político que tem devastado o país ou deixa que tudo continue como está
e então pactua com o crime incendiário e é conivente com a morte de centenas de
pessoas vítimas dos incêndios deste fatídico Verão de 2017 e com o prejuízo de
milhões de euros em casas, fábricas, animais, máquinas, veículos, etc. De
facto, o diabo tem instalado o inferno, com toda a facilidade e sem obstáculos,
nas florestas portuguesas ao logo de vários anos. Não podemos permitir que o
mal continue a reinar.
É lamentável que
só agora, depois de tantos anos de desgraças, as tragédias deste Verão tenham
servido de lição ao mais alto magistrado da nação para que, no futuro, não se
voltem a repetir e as vítimas não fiquem esquecidas como tem acontecido até
hoje. Qualquer cidadão de bom senso sabe perfeitamente, há muito tempo, que as
enormes labaredas que têm queimado as florestas portuguesas ao longo de todos
estes Verões não eram normais, mas actos criminosos, num crescendo de ruína e
destruição cada vez mais grave, de ano para ano. O presidente da República é o
chefe supremo em quem o povo deve confiar, é quem detém o poder máximo e é quem
deve orientar o país para a paz e a sobrevivência colectiva. O presidente da
República é como um “deus político”. A sabedoria popular afirma: “haja um Deus
que nos governe”, caso contrário será o fim, será a perdição completa. Deus não
pode permitir que o diabo prevaleça. O “deus político” não pode associar-se aos
malfeitores.
As tragédias
deste ano provocadas pelos incêndios mostraram, mais uma vez, a enorme
generosidade do povo, a prontidão em ajudar não só em Portugal mas um pouco por
toda a Europa. Muitas pessoas organizaram campanhas e reuniram donativos para
acudir às pessoas que ficaram sem nada. Toda esta onda de generosidade
contrasta com a insensibilidade do primeiro ministro que se tem mantido frio e distante
prometendo reformar a floresta em vez de acudir às pessoas. O povo é
extremamente generoso, pelo contrário, a classe política, em geral, é uma
autêntica máfia que tem apostado em destruir o país. O povo é de uma bondade
extrema que acudiu em força e rapidamente à desgraça, por outro lado o poder
político tem-se mostrado perverso, avarento, desconfiado e irresponsável.
Parece dominado por forças estranhas e ocultas que não deixam ver o óbvio, o
justo e o bom. Não podemos permitir que a generosidade do povo seja aproveitada
pelo poder político para branquear toda a onda criminosa que tem levado a
destruição e a morte ao país. Por outro lado, muitos beijinhos e abraços e
promessas de que as responsabilidades serão apuradas até ao fim, se não forem
cumpridas, não passam de gestos hipócritas coniventes com os criminosos.
A devastação
provocada pelos incêndios não deixou “pedra sobre pedra”. Que fique bem claro
que a culpa terá sido toda do governo e da classe política em geral. Tudo isto
podia ter sido evitado. Por isso a obrigação do Estado é voltar a colocar “pedra
sobre pedra”. Claro que não é possível restituir a vida às vítimas dos
incêndios mas a obrigação do Estado é ressarcir todos os prejuízos decorrentes
desta enorme tragédia: a reconstrução das casas, das fábricas, das máquinas,
dos veículos, dos bens em geral e a restituição da saúde a todos os feridos. Não
podemos permitir que o crime domine completamente o poder político e as vítimas
fiquem abandonadas e prejudicadas ad
aeternum. Temos que exigir responsabilidade ao poder político.
A perversidade
do poder político manifesta-se também fortemente, como referi atrás, na
destruição ambiental. Se o cidadão comum está obrigado a cumprir regras rigorosas
para a defesa da fauna e da flora, especialmente, em certas regiões de paisagem
protegida e sobre várias espécies em vias de extinção com muito mais razão não
podemos tolerar que o Estado fique impune perante a destruição massiva das
florestas, todos os anos de forma negligente e intencional. Que fique bem claro
que a seca é uma consequência directa da devastação incendiária. A seca é a
concretização real da política de morte e destruição em curso no país, tónica
marcante desta ideologia que tomou de assalto o poder, que começou com a lei do
aborto, tenta alargar-se à eutanásia e transparece na maior parte dos diplomas
oficiais que regulam a vida política actual.
As leis são
universais: está decretada a lei da morte e a Natureza cumpre-a. Esta seca não
é uma consequência do acaso ou uma situação fortuita da Natureza. Em linguagem
informática o governo tem posto em acção as Startup
da morte, da destruição, da impunidade, do crime e da perversidade. É preciso
que o presidente da República ponha em acção as Startup da vida, da justiça, da legalidade e da moralidade para
acabar, de vez, com o desígnio da desgraça e da morte.
Pode Vossa
Excelência, senhor presidente da República, ficar calado depois das fortes
suspeitas de crime incendiário ao longo do Verão de 2017 na continuação do que
aconteceu nos anos anteriores, com as consequências trágicas que toda a gente conhece?