Obviamente, quem esperava outra
coisa? Já devia estar detido há mais tempo. Como é que eu, à distância, sem
nunca ter convivido de perto com ele, já tinha a convicção de que este senhor
era um suposto criminoso, e a maior parte das pessoas do partido, do governo e
de outras áreas nunca se tenha apercebido disso? Ninguém viu os casos, as suspeitas
e as acusações em que ele se viu envolvido ao longo de toda a sua actividade
política? Ninguém deu importância ao seu autoritarismo e à sua fuga aos
jornalistas para esclarecer, tranquilamente, as dúvidas relativas a essas
actividades, já que se afirmava inocente? Se se considerava inocente por que é
que não falava abertamente e sem rodeios de todos esses casos?
Como é possível que o mais alto
magistrado do Supremo Tribunal de Justiça tenha protegido este senhor? Que consequências
devem ser retiradas da sua actuação perante um suposto criminoso que foi
apanhado em escutas sobre acções que configuravam um suposto atentado contra o
estado de direito pelo Procurador do Ministério Público de Aveiro? Que consequências
devem ser assumidas pelos actores da justiça que o investigaram e arquivaram
todos os processos, deixaram prescrever alguns, deixaram vinte e sete questões
para lhe fazer e afirmaram que nunca detectaram quaisquer indícios de
corrupção, tráfico de influências e outros crimes de que agora é indiciado?
Como é possível que uma autarquia o
tenha premiado com a chave de ouro da cidade, recentemente, sem que tivesse
vislumbrado, em toda a sua carreira política, indícios de falsificação e de
corrupção?
Como é possível que os actuais
dirigentes do seu partido queiram fazer um branqueamento de toda a sua suposta prática
político-criminal altamente lesiva da economia do Estado e das gerações
futuras, com base numa simples distinção entre o poder político e o judicial? Se
um governante desempenhar uma prática política criminosa do ponto de vista do
poder judicial, os seus colegas de partido podem ficar de consciência tranquila
como se nada fosse?
Como é possível que o patriarca da
família política o tenha visitado na cadeia, num dia em que as visitas são
proibidas e tenha proferido acusações contra o poder judicial por ter detido,
preventivamente, um cidadão suspeito de crimes graves?
Como é possível que este patriarca
da mesma família política tenha afirmado que a prisão de um suposto criminoso é
uma infâmia, desrespeitando, assim, a independência e a legitimidade do poder
judicial como um dos três poderes do Estado?
Como é possível que este senhor,
patriarca da mesma família política tenha afirmado que este caso é de natureza
política quando estão em causa supostos crimes de natureza económica e fiscal?
Se o patriarca da mesma família
politica se identifica e defende um hipotético criminoso, que conclusão devemos
retirar desta atitude?
Muitas pessoas criticaram o
mediatismo e o espectáculo mas, não vivemos hoje numa sociedade da informação
dominada pelos meios de comunicação social? Como é possível tapar o sol com uma
peneira? Como é possível ignorar que um ex-primeiro ministro (não é um cidadão
anónimo qualquer) tenha sido detido para interrogatório? Não vivemos hoje num
estado de liberdade ou estaremos perante um regime de censura que nos impede de
ver o que se passa à nossa volta? O arguido foi humilhado por ter sido detido
antes de chegar a casa? Quem pode saber quais as verdadeiras razões desta
detenção?
Provavelmente o próprio arguido já não
tinha por onde escapar e por isso, vendo-se na impossibilidade de manter esta
vida dupla, de crimes vários, decidiu que a prisão seria um descanso e a única
oportunidade de recuperar a qualidade de vida.
Alguém julga que este senhor,
homónimo de um dos maiores filósofos gregos, que agora também decidiu dedicar-se
à Filosofia, esteja inocente e se queira comparar com ele, numa injusta
condenação à morte pela cicuta?