segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Na hora do recreio I

O menino Sousinha e o menino Sócas
- Eu sou teu amigo, não sou, Sousita? Sempre nos demos muito bem, não podemos brigar um com o outro. Nós fomos sempre da mesma escola, não fomos?! Olá! Não sorris para mim? Vá lá!
- Da mesma escola? Tu és um tresmalhado, um vendido! Eu não te conheço!
- Ó Sousita, não vês que não podes ser mau para mim? Olha que eu tenho os comandos do jogo?
- Eu não te quero ver mais aí em cima. Fizeste alianças com aqueles meninos, os mais ricos da escola e abandonaste os outros. Desprezaste os descalços e rotos e os que nem brinquedos têm.
- Ó Sousinha, vamos lá, olha que se a minha turma perde vai ser uma grande desgraça. Já viste o velho papão da direita que mete muito medo a todos os meninos? Olha que ele vem lá! Vem, vem!
- Tu? Ó Sócas?! Então tu fizeste alianças com o grande capital! Tu é que és o grande papão da direita!
- Olha que eu fiz muitas coisas boas! Não viste? Então eu dei tantos brinquedos a todos os meninos das escolas todas deste país! Umas coisas azuis!
- Tu tiraste a liberdade a toda a gente! Ameaças os meninos que dizem mal de ti e queres controlar tudo. Sabes? Não gosto de ti.
- Ahhhhhhh! Ahhhhh! Ó senhora professora, olhe o menino Sousinha está sempre a bater-me. E não devia porque eu sou da mesma turma dele!
- O que fizeste, menino Sousinha?
- Nada, senhora professora. O menino Sócas é que quer os brinquedos todos para ele e tira-nos o dinheiro todo para comprarmos outros novos!
- Não vês que o menino Sócas é o chefe de turma. Tens de fazer o que ele manda.
- Não, não, senhora professora. Ele está a abusar. Agora vamos escolher outro.
- Portaste-te mal, menino Sócas? Fizeste alguma maroteira?
- Não, senhora professora! Eu nunca me portei mal. Mas ele está sempre a bater-me. Ele e os outros da direita.
- Pronto, pronto, não chores mais, menino Sócas!
- Eles estão sempre a dizer que a crise é culpa minha! Mas eu não fiz nada, eu estive sempre quietinho. Ela é que apareceu cá. Eu nem sabia o que era uma crise!
- Então não sabias dizer à crise para não vir?
- Não, senhora professora! Eu estava um dia a brincar quando a vi chegar, levada pelo vento! Mas eu, agora, estou a fazer muitas coisas para acabar com ela: muitas escolas novas, muitas estradas e auto estradas, uma linha de comboio muito cara, etc. Estou a dar diplomas a toda a gente para mostrar que sabemos muito. Não dou mais porque não aparece mais ninguém, nem ao domingo.
- E tens dinheiro para fazer isso tudo, menino Sócas?
- Eu não! Mas não sou eu que pago! São os meninos todos, os papás deles e a senhora professora!
- Deixa lá! Se eles não gostam do que fazes, tens de ter paciência!
- Eles dizem que vão rasgar os meus papéis todos, todinhos! Ó senhora professora, ahhh! ahhh!
- Se calhar os teus desenhos estão mal feitos! …
- Para mim estão muito bonitos!
- Vá lá, menino Sócas! Se os outros meninos não gostam, não podes obrigar, está bem?!